sábado, julho 09, 2005

Morte e ressurreição do Fotojornalismo, por Christian Caujolle

Christian CAUJOLLE*, 2005, Morte e Ressurreição do Fotojornalismo, in Le Monde Diplomátique (ed. Port.), Março, p.5



Segundo CAUJOLLE, dois acontecimentos importantes e trágicos, em 1004, as torturas na prisão de Abu Ghraib, em Bagdad, e o tsunami do Oceano Índico, vieram trazer questões novas ao fotojornalismo. O que se passa é que as imagens que primeiro correram mundo fora, , na sua maioria colhidas por amadores, em especial em formato digital, através de máquinas fotográficas, vídeos ou simplesmente telemóveis. Sob o ponto de vista da imagem, estes documentos, independentemente do seu autor, serviram para legitimar verdades acontecimentais, ultrapassando uma tradição quase secular que atribuía aos jornalistas fotográficos o privilégio de apresentar a verdade testemunhal icónica dos factos.
A nossa relação com o real e a sua imagem alterou-se, portanto, no sentido da velocidade e da “democraticidade”, na acessibilidade aos factos. Aos fotojornalistas restam agora duas atitudes. Ou o regresso ao velho estribilho da concorrência desleal, que já se tinha levantado com a escalada da televisão, ou então um reacção vital, de propostas, que afinal obedecem a regras muito simples. O fotojornalista não deverá ser o mero ilustrador de uma notícia, mas sim o jornalista que aborda a actualidade com pontos de vista próprios, diferentes, em trabalhos de verdadeira investigação e criação. Os fotojornalistas devem assim deixar de lado antigas discussões da relação de imparcialidade com a realidade, e tornarem-se, eles próprios, autores-criadores, só eles podendo salvar uma imprensa escrita moribunda. É também indispensável que os suportes impressos tenham um novo sentido das imagens que publicam, seja fotografia digital (obtida e tratada das mais variadas formas), fotografia analógica, infografias, desenhos, todas as imagens têm um valor próprio informativo e que se devem afastar o mais possível de estereótipos.
CAUJOLLE termina o seu texto dizendo (e cito): “É a vez de esta última (a fotografia) demonstrar que os Cezanne, os Malevitch e os Picasso da arte fotográfica ainda não chegaram. E que as suas imagens serão mais novas, mais fortes e perturbantes que nunca.”


* Fundador e director da Agência e da Galeria VU, Paris

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