sexta-feira, maio 20, 2005

Acerca de uma frase de Charles Baudelaire

LA BEAUTÉ

Je suis belle, ô mortels! comme un rêve de pierre,Et mon sein, où chacun s'est meurtri tour à tour, Est fait pour inspirer au poète un amour Eternel et muet ainsi que la matière.

Je trône dans l'azur comme un sphinx incompris; J'unis un cœur de neige à la blancheur des cygnes; Je hais le mouvement qui déplace les lignes; Et jamais je ne pleure et jamais je ne ris.

Les poètes, devant mes grandes attitudes, Que j'ai, pour fasciner ces dociles amant, De purs miroirs qui font toutes choses plus belles: Mes yeux, mes larges yeux aux clartés éternelles!



Charles Baudelaire é um dos grandes poetas românticos, considerado um dos chefes de fila do decadentismo romântico. Mas para além da sua poesia é também conhecido pelos seus ensaios sobre arte. Desenvolve uma ideia de beleza eterna, ideal, quase clássica, a partir de uma ideia da Natureza à maneira de Rousseau, uma Natureza não natural mas naturante, uma natureza que o homem apenas consegue conspurcar. Curiosa é a sua relação com o Realismo emergente, que considera um insulto lançado contra a face dos homens e também extremamente curiosa é a sua atitude relativa à fotografia – “Um deus vingador deu ouvidos a esta multidão (Realistas) e Daguerre é o seu Messias!).

É neste contexto que deveremos compreender esta frase de Baudelaire. Para ele a arte devia assentar na natureza, mas não em qualquer natureza. Ou seja, a natureza que ele fala não é a realidade.

Esta discussão repassa todo o século XIX e só no século XX teve respostas convincentes (ou talvez tenha tido) ao nível da pintura. Na fotografia é uma discussão ainda para ser feita, ou que se vai fazendo muito lentamente. Peguemos nesta foto. Paulo Pinto dá-lhe o título de “Fúria”. No fundo, transmite para a imagem um sentimento humano que não existe na natureza, é então uma natureza naturante. Não é a naturza que ele viu, é a natureza que imaginou ao pensar na maneira de a apreender. Conceptualizou-a, não a copiou mecanicamente. A técnica é mecânica, mas o impulso artístico é humano! Humanizou-a portanto. Toda a fotografia é manipulação, já o disse muitas vezes. Contudo essa asserção levanta dúvidas a muita gente, lançando uma ideia negativa. Esta manipulação de que eu falo é extremamente positiva. É essa manipulação que confere à fotografia o ser arte.

Web Counter