sexta-feira, maio 20, 2005

Manifesto da intervenção sobre fotografia

Uma das características possíveis da arte moderna (e entendo aqui arte moderna como aquela que se segue à II Guerra Mundial) é a transgressão ao espírito de uma arte mais tradicional.

Este espírito transgressor tem inicio com o movimento Dada (Duchamp e os seus ready-made por exemplo), passando pela Pop Art, Minimal Art, Happening, Arte Conceptual… Sobretudo vai-se agir sobre o suporte, mais do que sobre o conteúdo, ou melhor, a acção artística encerra-se no suporte constitutivo, A arte torna-se mais acção e menos dimensão (em especial no Happening e na arte Conceptual).

Assim sendo, a arte actual enforma-se escatologicamente na intervenção, ultrapassando o sentido único da criação. Lógico é que arte continua a ser (e tem que continuar a ser), sobretudo criação, criação de um cosmos harmónico ou não harmónico aos nossos sentidos (não nos podemos esquecer que as categorias estéticas vão do Belo ao Horrível). Mas essa criação integra-se hoje, e cada vez mais, num conceito de intervenção e interacção entre atitudes plásticas (já os cubistas o tinham percebido).

A uma atitude de “virar para dentro”, as várias expressões artísticas começam paulatinamente a dialogar com as outras (nem sempre escapando a verdadeiras “peixeiradas”). Muitos arquitectos encontraram já a escultura como forma expressiva do seu trabalho (veja-se o caso do desconstrutivismo), muitos pintores procuram no Happening, na instalação, na fotografia, métodos impressivos e expressivos para o seu percurso estético.

A fotografia é, pela sua história ainda curta, uma das expressões artísticas que tem mais preservado uma certa unicidade formal. Urge afastar fantasmas. E ninguém melhor que os amadores (que nada devem a saberes fazeres formais) para ousar! Mais do que fazer fotografia (e já nem falo no tirar fotografias) é tempo de intervir sobre fotografia!

Mesmo que nos digam – “isto não é fotografia!”
Mesmo que nos digam – “cambada de doidos varridos!”
Mesmo que nos digam – “deixem-se de tretas e façam a verdadeira fotografia!”
Mesmo que nos digam – “dou-vos 500 euros para apagarem essa merda!”
Mesmo que nos digam – “apanho-te lá fora e parto-te todo!”
Mesmo que nos chamem – “calhordas, filibusteiros, diletantes, ornitorrincos!”

É tempo de intervir sobre fotografia!!!

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