quinta-feira, maio 19, 2005

Tsunami de imagens

Tsunami de imagens


No passado domingo, dia 9 de Janeiro de 2005, a revista Pública, convidou o sociólogo (e professor de História e Teoria da Fotografia na FCH da UNL) a analisar a avalanche de fotografias que nos chegaram da terrível tragédia de 26 de Dezembro. O resultado foi publicado através de um texto escrito por Paulo Moura.
Em primeiro lugar, Mah tenta perceber o porquê do enorme sucesso que teve a fotografia de Gurinder Osan, em Silver Beach, Cuddalore, Índia, que mostra um pai e uma mãe, debruçados (e destroçados), chorando sobre o corpo do filho morto. A foto regista um dos pontos mais altos da dor, a dor dos pais pela morte de um filho. Para Mah, para além da fotografia em si que constitui como arquétipo da representação da dor na pintura clássica (algo com o qual eu não posso concordar, mas que não tem aqui cabimento discutir), a imagem remete-nos para a sublimação da dor, através de uma faceta da fotografia, a que podemos chamar de anestesia – uma capacidade de imobilizar e filtrar um momento, sendo assim o domínio ideal para se repensar a morte. Para além da reflexão de Sérgio Mah, eu referiria aqui a capacidade da fotografia em nos aproximar de um momento, sem que esse momento nos pertença (isto do ponto de vista do observador, claro).
Numa segunda parte do texto, surge-nos a reflexão mais interessante e, talvez, mais desconfortável. Com que direito se faz arte com dor? Mah advoga, para estas situações de fotojornalismo, o que ele chama de imagens diferidas, mantendo uma distância grande da dor humana e, em especial, evitando estratégias de dramatização formal da fotografia. Segundo ele, a tragédia nunca pode ser bela, de modo que quando se diz – “esta foto é bela, apesar da situação que mostra”, estamos a cair num equívoco moral.

3 Comments:

At 1:12 da tarde, Blogger Unknown said...

O que me fascina e me assusta no fotojornalismo e` a verdade nua e crua que vem com ele.
Mas chamar de arte .
Eu acho que nao e` .
Me lembra muito o profissao de Medico .
Como um obstreta e um legista(se e` que me entendes).
Bem volto teras uma frequentadora sempre.

Continue escrevendo.

Roberta Jardiim

 
At 7:34 da tarde, Blogger Maria Clarinda said...

Pois é amigo, cá continuo visitando os teus blogs, imprimindo os teus textos e lendo-os calmamente, e cada vez mais te admirando!
Um beijo, Amigo.

 
At 5:41 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Recorro ao último parágrafo do teu texto:
" ... Com que direito se faz arte com dor? ... Segundo ele ( Mah), a tragédia nunca pode ser bela, de modo que quando se diz – “esta foto é bela, apesar da situação que mostra”, estamos a cair num equívoco moral.... "

Nada mais verdadeiro, meu caro João.
Mas é essa crueldade que vende ... é esse equívoco que gera fortunas !!!

Triste sociedade esta !
Um grande abraço

 

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