sexta-feira, maio 20, 2005

O Álbum Cunha Moraes

Há alguns anos, através de uma herança familiar, veio ter à minha mão um álbum extremamente curioso – “África Occidental, Album Photographico e descriptivo”, de J. A. De Cunha Moraes, publicado por David Corazzi, editor em Lisboa, em 1885. Infelizmente só possuo a I parte deste Album, cuja contém 38 fotografias. É sem dúvida uma peça importante, tanto no aspecto etnográfico, como no histórico e, sobretudo, uma peça importante para a história da fotografia portuguesa..

Deixo aqui as palavras introdutórias de Luciano Cordeiro, que prefaciou a obra e que reputo de interesse, não só como apresentação, mas também pela forma como se via a fotografia à época.

Como é lógico, se alguém estiver interessado na temática, terei muito prazer em facultar o estudo da obra que, aliás, não está (pelo menos não estava há dois anos atrás) disponível na Biblioteca Nacional.

O Nosso Album
Por Luciano Cordeiro


“Faltava-nos isto: - que a machina photographica se emparceirasse definitivamente com o hypsometro, com o thermometro, com o sextante, n’esta conquista ideal do Continente Negro; - que a reproducção do panorama, da figura, da natureza viva e da natureza morta, como dizem os artistas, acompanhasse a determinação do clima, do relevo, da situação.
A palavra é certamente a arte por excellencia, a arte ubíqua. Ha nos livros dos exploradores africanos uma infinidade de descripções primorosas que fixam, com uma grande força communicativa, a idéa, a noção, a verdade objectiva directamente colhida. O desenho transmitte, corporisada, a impressão immediata do viajante. Completa a descripção. Mas em tudo isto o factor pessoal: - a destreza da mão, a disciplina da penna, o temperamento, a educação, o caracter – o artista, em summa, - impõe-se necessariamente, inconscientemente, á impressão recebida e communicada.
Na descoberta e no aperfeiçoamento successivo dos processos photographicos entra em grande parte, como estimulo persistente, a necessidade, o ideal, - como todos os ideaes nunca attingido e sempre procurado, - da reproducção extreme, da copia impessoal. Os olhos, o cerebro, a palavra, têem como machinismo photogrphico, reproductivo, este vício: - impõem-se á reproducção, juntam-se, modificando forçosamente, ao objecto reproduzido. (...) Substituir este meio transmissor, activo, e por conseguinte modificante, intelligente, e por conseguinte livre, por um outro perfeitamente passivo, que fixe e represente o que se viu, não como qual o viu mas como é: - eis a razão e ao mesmo tempo a finalidade positiva dos processos photographicos.
(...) Vinte annos conta d’Africa, este talentoso e valente rapaz. Cunha Moraes tem percorrido por diversas vezes a costa, desde o Quillo até além de Mossamedes, internando-se em diversos sentidos nos sertões mais inhospitos, para colher, muitas vezes com risco de vida e sempre à custa de um trabalho paciente, os seus quatrocentos clichés, dos quais offerece hoje ao publico alguns dos mais formosos e interessantes.”

2 Comments:

At 11:15 da manhã, Anonymous Anónimo said...

Li atentamente o seu texto e como sou apaixonada por fotografia do século XIX, restame perguntar-lhe se o que tem é o primeiro album de Iv que foram impressos em fototipias ou se é um album com fotografias originais

“África Occidental, Album Photographico e descriptivo”, de J. A. De Cunha Moraes, publicado por David Corazzi, editor em Lisboa, em 1885. Infelizmente só possuo a I parte deste Album, cuja contém 38 fotografias

 
At 10:01 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Cunha Morais teve uma relação muito especial com Mossãmedes (Angola). Gostaria de ter acesso a todas as fotos da minha terra que ele publicou, ainda que conheça bastantes.

 

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